terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bicho Preguiça!

Por um segundo, eu teria sido atriz e não jornalista. A linha tênue entre uma escolha e outra foi a incerteza de que eu daria certo como artista. Assim, fiz vestibular para Comunicação Social (Jornalismo) e abracei a certeza de que essa era a profissão que eu queria seguir por opção e vocação.

Hoje, tenho orgulho do diploma de Bacharel em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual da Paraíba. A profissão me deu muitas conquistas, embora tenha me desmotivado e desencantado algumas vezes. Porém, o mesmo diploma do qual me orgulho, me leva a fazer algumas reflexões.

A ideia da não obrigatoriedade do diploma me incomoda. Ele é importante. O diploma certifica que passei pela academia, estudei e fui ensinada a fazer o que faço. Claro que alguns aprendizados a prática nos oferece e essas vivências não encontramos nos livros. Isso me faz lembrar nomes como, Samuel Wainer, Antonio Maria, Joel Silveira que, no passado, sem o bendito diploma, conquistaram o respeito e a credibilidade dos seus leitores e “seguidores”.

Não se concebe um jornalista que não lê, não sabe escrever e não gosta de aprender. Um jornalista que se preza, vive em busca dos fatos, da notícia. Garimpa informações, se atualiza. Esmera-se na redação de um bom texto. Mas, infelizmente, existem muitos “profissionais” posando bem na foto sem o mínimo compromisso com a profissão.

Vem a pergunta: será que um profissional alheio a essas características sobrevive à competitividade do mercado de trabalho? Sim, sobrevive e com diploma. E são esses profissionais que baseiam decisões como a do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2009, quando por 8 votos a 1, os ministros decidiram que o diploma de jornalismo não é obrigatório para o exercício da profissão.

Em certos momentos, quando olho ao meu redor e observo jovens recém saídos da faculdade, cheios de vontade de abraçar o mundo como jornalistas, confesso que me decepciona lembrar que as justificativas de Gilmar Mendes tiveram o apoio dos ministros Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello.

De repente, a decisão merecia uma emenda determinando e descrevendo, quem sabe, o perfil daqueles que não merecem o diploma. Seria mais justo.

Deveria existir uma denominação mais precisa para identificar e diferenciar esses oportunistas. Enquanto isso, eu prefiro chamá-los de Bicho Preguiça. Entenda: a preguiça, ou bicho-preguiça, se pendura aos galhos das árvores, com o dorso para baixo. O jornalista sem compromisso pula de galho em galho até encontrar o lugar mais conveniente para ele.

O Bicho Preguiça tem como defesa sua camuflagem e suas garras. O jornalista sem compromisso camufla muito bem a sua falta de talento e vocação.

O Bicho Preguiça prefere viver em árvores altas, com copa volumosa e densa e muitos cipós, onde se penduram usando as garras que, embora possam parecer assustadoras, praticamente não servem para nenhuma defesa. O jornalista sem compromisso gosta de estar em evidência, tenta mostrar competência, mas seu talento frágil não assusta.

Devido a seu habitat limitado à copa das árvores, e a seus hábitos alimentares especializados, o Bicho Preguiça é muito afetado pela diminuição das florestas tropicais. Estima-se que venha a ser espécie ameaçada em futuro próximo. Espero que assim seja com o jornalista sem compromisso, vugo Bicho Preguiça, com todo respeito à natureza.


Imagem/Crédito: http://guaiauna.com.br/blogs/1manha/?p=199

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